Todas as religiões pagãs surgiram da observação.
A Natureza para o paganismo é a própria Divindade manifestada, então tudo o que há e está sobre a Terra é Sagrado, assim como seus ciclos.
Desde o início, os homens passaram a observar que apenas as mulheres geravam novos seres, e isso parecia ser um dom mágico pertencente a elas, uma vez que o ato sexual não estava relacionado à criação.
Então, a mulher era o centro, pois o futuro da tribo dependia dela. A divindade criadora do Universo foi primeiramente reconhecida como a Grande Deusa Mãe.
Cada mulher era uma representante da Deusa na Terra.
A linhagem respeitada era a matrilinear, e os bens e ensinamentos eram passados de mãe para filha.
As primeiras manifestações religiosas ao redor de todo o mundo cultuavam o Sagrado Feminino.
Isso é comprovado por arqueólogos e historiadores, através das estátuas encontradas que datam do Neolítico e do Paleolítico Superior, como as Vênus de Willendorf e do Nilo.
O culto ao Deus estava relacionado às caçadas e aos homens, mas ainda sob égide da Deusa, pois Ela era a Senhora das Feras.
Isso foi retratado em muitas cavernas, em ritos masculinos nos quais os desenhos eram feitos representando uma boa caçada, na esperança de que isso se tornasse realidade.
Nessa época surgiu a relação mágica e espiritual entre a caça e o caçador, porque a reprodução e saúde dos animais eram necessárias para alimentar a tribo.
O homem então teve o seu primeiro culto masculino, ao se ornar com chifres representando o Deus que morre em cada animal que é caçado.
E quando as tribos deixaram de ser nômades e se tornaram agricultoras e pastoris, o Deus era aquele que se sacrificava em forma de gado e grãos para alimentar o povo da Senhora.
Quando esses povos primitivos da Europa começaram a guerrear entre si, os homens passavam muitas temporadas fora, foi aí que perceberam que suas mulheres não engravidavam durante a sua ausência.
Então, percebeu-se que para haver a criação, a união do Feminino com o Masculino tinha de acontecer.
Os homens tinham, no início, medo do poder criador da mulher. E assim iniciou-se um processo de supervalorização da figura Masculina; para que os homens se sentissem mais fortes, era preciso rebaixar o poder da mulher e da Deusa. Junto à ascensão dos Deuses Masculinos, houve o movimento de substituição gradativa do matriarcado pelo patriarcado.
A sociedade enquanto matrifocal era mantenedora da paz. Oferecia a todos, homens e mulheres, os mesmos direitos, afinal eram uma grande família, pois todos eram filhos Dela.
Todas as pessoas tinham seu papel na vida cotidiana, com direitos e deveres específicos, e a criminalidade era algo quase que inexistente, pois não havia dentro dessas comunidades sentimentos de inveja ou diferenças sociais.
O patriarcado trouxe junto com ele sentimentos e valores que até então eram desconhecidos.
Os homens no poder passaram a valorizar apenas a figura e a posição masculina, então a noção de importância foi completamente direcionada para a guerra e disputas.
Apenas os mais fortes e sadios eram respeitados, colocando assim as mulheres, os deficientes e até mesmo os homens idosos em uma posição desfavorável.
Essa sociedade tornou-se violenta, preguiçosa e gananciosa. Um bom exemplo dessa diferença entre os valores de uma sociedade matriarcal e outra patriarcal são as noções de matrimônio, casamento e criação de seio familiar, e patrimônio, bens em geral ou acúmulo de valores.
Nossa sociedade continua ainda hoje sob os grilhões dessa visão patrifocal de mundo. Aos poucos isso vem mudando, graças a ações como o movimento feminista dos anos 60, a liberação sexual dos anos 70, entre muitos outros.
Alguns ligam esse fato à chegada da tão esperada Era de Aquário, outros à simples conscientização da humanidade perante a situação atual do planeta e aquilo que o futuro nos reserva.
De qualquer maneira, muito falamos sobre as feridas que o patriarcado causou nas mulheres, mas nos esquecemos que os homens também são vítimas das atitudes de seus antepassados.
Talvez os homens sofram tanto quanto ou até mais que as mulheres na sociedade patriarcal em que vivemos.
Os homens sofrem com o patriarcado desde o momento de seu nascimento. Pergunte a um pai o sexo do seu filho que acaba de nascer, e se for masculino, na maioria das vezes a resposta recebida é “Meu filho é homem”, quando na realidade não passa de um bebê.
O contrário não acontece; sendo o sexo feminino, o mais provável de se ouvir é “É uma linda menininha.”
Até o direito de ser criança foi negado aos homens por muitas eras.
E como são criados dessa forma, acabam se alienando com o tempo e crendo que essa é realmente a maneira correta de se criar um filho, repetindo o erro de seus pais.
Só que as marcas da repressão continuam dentro desses homens por toda a vida, por mais que estejam muito bem escondidas, assombrando-os de vez em quando apenas.
Vide a quantidade de assassinos, estupradores, psicopatas em geral que hoje temos aos montes em todos os presídios – vale lembrar que a grande maioria dos crimes é cometido por indivíduos do sexo masculino.
As mulheres como foram colocadas de lado na sociedade, criaram seus próprios costumes e passaram a viver em grupo, em apoio mútuo.
Os homens não têm esse privilégio, pois são criados para se virarem sozinhos, sem precisar do apoio de ninguém – pedir ajuda inclusive é motivo de vergonha para muitos homens.
Os homens são criados para serem assim, duros, frios e sem sentimentos. Homens não choram sob hipótese alguma, não demonstram carinho e afeto por ninguém, não sofrem por amor.
Aliás, homens não amam, transam, e com a maior quantidade de mulheres que for possível. Um homem é criado para ser sempre o melhor, e se ele não for o chefe da empresa em que trabalha, será sempre um perdedor. Ganhar menos que a esposa é um insulto à masculinidade.
Sem falar em conceitos de estética, que ferem a auto-estima de homens e mulheres.
Muitos podem pensar que isso é machista e que por isso coloca os homens em situação melhor que a das mulheres, mas não.
Existem homens sentimentais, e que sentem falta de sua família.
Existem homens que se apaixonam por uma garota na época do colégio, se casam com ela, e não traem sua amada esposa. Existem aqueles que sofrem por amores não-correspondidos.
Ou aquele que prefere ser carpinteiro para seguir a profissão ensinada pelo avô do que ganhar três vezes mais trabalhando em um escritório.
Existem maridos que tem posições menos importantes no mercado de trabalho que suas esposas, e por isso um dia resolvem deixar seus empregos para ficar em casa e cuidar dos filhos, para que as mulheres possam seguir sua carreira sem se preocupar. Para esses homens, a concepção machista de mundo é muito cruel.
Não falo de homens gays, pois esses já passaram por seu processo de libertação do patriarcado e lutam por seus direitos dia após dia, com honra e dignidade.
Falo dos homens heterossexuais mesmo, aos quais foram negados o amor de pai, o carinho e afeto dos amigos na infância, a paixão verdadeira na juventude. Os homens assim são eternos meninos sofridos, e muitas vezes transformam essa dor e sofrimento em uma máscara de mais machismo e arrogância.
Vamos olhar mais para dentro de nossas casas, e buscarmos perceber essas limitações nos homens de nossas próprias famílias. Muitas vezes, o que o seu pai ignorante e grosseiro mais deseja é receber um beijo carinhoso e ouvir a doce melodia de um “Eu te amo.”
Esses atos simples e afetuosos têm um poder transformador incomensurável.
Temos que tentar compreender as atitudes das pessoas, sempre pensando na forma como elas foram criadas.
E perdoar se esse for o caso, pois pai temos um só nessa vida, seja ele biológico, adotivo ou de consideração.
Nossa figura paterna pode ser um avô, um irmão mais velho, um amigo da família; sendo quem quer que seja é parte integrante e sagrada de nossa formação como pessoas.
Aprendendo com os erros cometidos no passado podemos evitá-los no presente, e criarmos nossos filhos – sejam homens ou mulheres – em uma sociedade mais justa, com valores centrais mais humanos.
E assim a imagem por tantos anos sustentada do Sagrado Masculino como castrador e tirano pode ser transformada em um Deus carinhoso e protetor, um verdadeiro Pai. O Filho e Consorte da Grande Mãe.
Por Raul Costa - Brendan Orin
Publicado: 08/02/2007
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E aí, gente, o que acharam? Ah, habilitei para anônimos de novo, então, favor, manter o nível!!