OBS: Este texto encontra-se devidamente registrado em Órgão competente da cidade onde moro
“Era um dia de inverno rigoroso quando Chang Pó está sendo levado ao Mosteiro que será a sua nova casa.
Ele está assustado, pois tem apenas 7 anos e sua família, muito empobrecida, está levando a este lugar estranho, onde deixará de existir para os seus pais.
O coração de Chang Pó está dilacerado, as lágrimas mal pisadas confrangem-no. Seu pai diz que ele deve tornar-se um Homem e um Homem sabe aceitar o seu destino com tenacidade.
A pequena família arrasta com dificuldade a pouca bagagem que carregam. Uma noite, Chang teve uma tenaz enfermidade devido ao tempo frio e quase se supôs que iriam perdê-lo. A mãe, uma sombra apagada pelo marido, nada pode fazer para alterar o destino do filho....
Chegam por fim ao Mosteiro.
O pequeno Chang, finalmente, dá largo espaço as lágrimas represadas. A Mãe nada responde, fita-o com uma saudade lancinante e seu coração não encontra espaço para consolo no coração embrutecido do marido, que agora vê negociando com o Mosteiro o preço da libertação de Chang. Ela se aproxima do filho e o consola o mais que pode, mas logo alguns sacerdotes aproximam-se de Chang e o arrastam para dentro. A mãe nada pode fazer senão chorar interna e silenciosamente, acompanhando seu marido, que lhe pertence a vida e a existência, no longo caminho de volta a sua vida, que, para sempre, será enlutada.....
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O pequeno Chang é chicoteado até sangrar, para enxugar suas lágrimas de dor e de saudade. A criança está perdida num mundo hostil . Suas lágrimas se misturam com seu sangue e o quarto em que o colocam isolado tem paredes frias a envolvê-lo.
Uma pequena porta se abre: entra um moço, um adolescente monge que traz comida e água para ele e o primeiro sorriso que recebe.
Parece a Chang que foi um raio de sol que entrou pela porta a dentro.
Ele agradece o rapaz, que sai silenciosamente.
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Mais de 6 meses se passaram desde que começara a nova vida de Chang. Ele tem uma grande capacidade de renovação e força interior, mas ainda chora á noite, com saudades de sua mãe e mágoa do seu pai, que o abandonou neste lugar estéril, para viver na solidão e no silêncio.
Chang logo faz amizade com os pequenos animaizinhos do Mosteiro, no intervalo das surras rotineiras, e os serviços mais áridos e escravizantes.
Chang deixou para trás sua infância dourada e, cada vez mais, está sepultando sua criança interna num mundo onde não há lugar para acalantos e cuidados.
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Certa vez Chang, cumprindo uma de muitas tarefas tão perigosas e severas para sua idade, foi mordido por um escorpião, tendo sido atacado por uma feroz febre, que durou muitos dias. Em seu delírio, julgou ter ouvido a voz de sua mãe e de seu pai, embalando-o com cuidados, mas, na verdade, quem o cuidava com ímpetos de amor paternal era Lobsang, o rapaz que lhe ofereceu comida.
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Quando Chang recuperou-se, Lobsang conseguiu do dono do Mosteiro a promessa de afrouxar os muitos deveres que pesavam sobre Chang e pediu que deixasse que ele cuidasse, prioritariamente, da educação espiritual de Chang.
E assim, Chang torna-se um homem que muito orgulho causa ao seu tutor, Lobsang. A amizade entre os dois torna-se mais duradoura e bonita.
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Certa vez, uma avalanche atingiu o povoado próximo ao mosteiro e muitos pereceram. O jovem Chang, entre outros, inclusive seu grande amigo Lobsang, ajudaram os pobres desabrigados e feridos. Chang possuía o dom de cura com as mãos caridosas, que muito carinho tratavam os doentes, que se consolavam e se acalentavam com sua presença.
Seu amigo Lobsang admirava-se e orgulhava-se muito de Chang, que, com o passar dos anos, tornou-se um ser humano tão bom e útil, principalmente no Mosteiro, onde muitos dos que o castigavam na infância agora voltam-se para ele, com a sua imensa sabedoria e compaixão por todos.
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Certa vez, o coração de Chang confrangeu-se. Uma missiva enviada pela família de Lobsang informava o retorno da família dele, com uma ótima proposta de casamento com uma filha de uma das mais abastadas famílias de região. Chang não entende porque sente seu coração pesar com desespero, na expectativa de afastar-se de seu amigo tão querido, ainda mais ele, Chang, tão consciente do desapego necessário à felicidade da alma.
De repente, as lágrimas que derramou na infância voltaram aos seus olhos e seu coração e, a medida que o tempo passava e as atitudes de família de Lobsang se tornavam mais claras para tornar o monge ao mundo exterior, mais o desespero interno de Chang torna-se evidente, de modo a chamar a atenção dos Monges superiores que, em percebendo a situação, resolvem afastá-lo de seu querido amigo.
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Enquanto isto, Lobsang mantém a firme decisão de contrariar seus familiares, não contraindo núpcias com a bela candidata a entrar na sua família, causando o rompimento de suas relações com seus pais e irmãos. Lobsang lembra-os que foram os próprios que o abandonaram na vida monástica, sem perguntarem se era o que queria tornar-se a sua vida, desse modo, ele, sendo um homem feito, haveria de escolher qual o melhor caminho para si, não as outras pessoas.
Lobsang foi firme em rejeitar a proposta de casamento.
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Mas o mal já foi semeado. Lobsang e Chang separam-se, cada um de seus corações sangrando de saudade e, sim, de Amor.
Lobsang e Chang amavam-se profundamente, como duas Almas Gêmeas que são, e este sentimento irá uni-los por séculos, não importando as circunstâncias que os separem, sejam nas florestas selvagens ou as regiões mais frias e inóspitas do Globo, seja nas cavernas mais profundas e solitárias.
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Por muitos anos, ambos foram chamados a missões monásticas em lugares mais distantes um do outro, sempre com o coração enlutado pela separação e isto durou por muitos anos.
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Chang continuou espalhando o seu amor incondicional a todos os que encontravam no caminho e cuidando de feridas físicas e emocionais dos que precisavam, pois ele conhecia ambas as dores, por isso, é mais fácil criar empatia.
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Certa vez, Chang, já envelhecido, reconhece em um dos vilarejos, na figura de uma criança adoentada, a alma renascida do seu pai, que tanto o magoou com o abandono e entregando-o ao velho Mosteiro e sua alma enche-se de perdão e compaixão.
A criança, Cepla era seu nome, estende-lhe os bracinhos debilitados e sorri pela primeira vez, em muitos meses que durou a enfermidade, e diz-lhe:
- Meu amado Chang, eu não poderia morrer sem pedir o seu perdão. Perdoa seu endurecido pai.
Chang abraça a criança ternamente e logo a seguir, ela dá o ultimo suspiro.
Os pais da criança são apenas comiseração e dor....Chang sente-se um intruso neste ambiente de dor e logo saí para fora.
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Desse dia em diante, Chang torna-se cada vez mais taciturno, ainda que o seu objetivo de vida, que é levar alegria para as pessoas sofredoras, continue guiando-o.....
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Os passos de Chang tornam-se a cada dia mais lentos e sentidos. Ele sabe que seu fim se aproxima e resolve sair da companhia das pessoas que tanto partilhou sofrimentos.
Chang encontra, por fim, uma caverna, um lugar onde sabe que poderá passar o resto de seus dias limites, abrigado de feras e confiando no Universo, para lhe dar o que necessita.
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Ele entra na caverna com cuidado e examina o seu interior. Vê caveiras e restos de animais mortos, a pouca iluminação, porém, não o amedronta e logo ele acha um espaço em que poderá colocar seus poucos haveres e esperar o término de seus dias.
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Ele ouve um barulho e descobre que não está só na caverna e uma voz gutural lhe diz:
- Quem é você? Veio em paz? Eu nada vejo,apenas existo e espero a Morte. Por favor, deixe-me morrer na minha solidão, eu que, há muito tempo, já sinto a Morte na Alma.
- Vim de paz, meu amigo, eu também nada possuo e nada lhe farei de mal, quero apenas , como você, descansar o meu corpo sofrido e minha alma desgastada.
- Sua voz para mim é agradável, lembra um grande Amor perdido no Tempo. Eu sinto que minha alma está para sempre dividida e separada desde que o perdi. Eu nada vejo, mas quando você entrou na minha caverna, foi uma Luz na minha Escuridão....
- Amigo, eu também senti um raio de sol entrar na minha vida há muito tempo, quando eu era criança, mas este raio de sol também se foi....
- Chang?, pergunta o velho cego e moribundo, agitando-se, emocionado.
- Lobsang, meu grande amigo, responde a voz de Chang, trêmula ...
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Não existem palavras para descrever a felicidade dos dois amigos amantes quando se reencontraram. O Amor apenas existe, apenas é, não se define, não se limita a corpos físicos, nem diferenças de sexo e de ser, apenas é.
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Alguns meses se passaram.
Um grupo de monges, que conheciam Chang, não conformados com o seu desaparecimento, procuram-no sem cessar, encontrando seu corpo na caverna, junto ao do seu amigo.
A vida os separou , a morte os reuniu.
No peito de ambos, foram encontrados, tatuados, no coração, os nomes um do outro."
Por Hamanndah
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oi amiga, passei correndo para comentar sobre o comentário q vc deixou em meu blog, olha, axo q vc esta super certa em preservar seus bixanos, foi se o tempo q eles podiam transitar livremente, do mesmo jeito q foi se o tempo q crianças brincavam na rua sem problema nenhum! os tempos mudam, e para os animais de estimação tb! moro em ap, os meus vivem presos, nunca saem, da dó claro, mas o q eu posso fazer? eles tem conforto, carinho e comida, e são 3, ñ vivem solitários! os seus pelo q li ainda saem né? mas vc esta certa em ter vista grossa!!! bjs amiga
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