Não bastou o reconhecimento público de que não havia nenhuma atividade social no terreno antes da ocupação; de que a área era objeto de pura e simples especulação imobiliária por parte do seu proprietário, conhecido megaespeculador e devedor contumaz de somas milionárias em tributos; de que os homens, mulheres e crianças que edificaram a comunidade são exemplares perfeitos daqueles que, com o seu trabalho, constroem a riqueza social que fica concentrada nas mãos de quem não tem a menor idéia do que é viver em um local como esse; não, nada disso foi suficiente para impedir a demonstração de que, numa sociedade de classes, o direito de propriedade não pode ser questionado.
Nesse caso é bem interessante notar que não há qualquer argumento ético ou moral que justifique a ação da polícia, mesmo em se tratando de uma moral de classe. O que ficou demonstrado é que, independente até dos valores humanitários possíveis de serem evocados para assegurar a sobrevivência de seres humanos em condições mínimas de existência, o necessário é fazer ver a todos que o princípio maior da inviolabilidade da propriedade privada precisa ser mantido. “Custe o que custar”.
É como se a sociedade de classes, por meio do seu estado de direito, quisesse dar uma lição efetiva do seu poder, lição essa que serve tanto para aqueles miseráveis que tiveram a audácia de montar um “exército de Brancaleone”, para enfrentar a “altaneira força policial” (sic), quanto para os demais incautos, que ensaiam expressar a sua indignação em algumas das ruas e praças desse “nosso lindo e feliz país tropical”.
Em situações limites como essa, as características mais essenciais daquilo que somos e, mais ainda, do que queremos ser, tornam-se mais evidentes, e cada um de nós, mesmo que por meio do menosprezo e/ou do desinteresse, é chamado a manifestar a sua posição. Esses momentos são plenos de contradições exatamente porque minimizam os efeitos do discurso ideológico e permitem que “o real” seja desvelado em muitas das suas facetas. Uma exposição tão efetiva da brutalidade que sustenta o status quo faz também com que mais indivíduos se deem conta do que é viver numa sociedade como essa e, portanto, sejam chamados a posicionar-se a respeito do seu projeto de vida.
É exatamente por isso que nenhum de nós pode deixar de expressar de qual o lado se encontra nessa contenda. Em qual trincheira pretende empunhar suas armas já que aqui não há lugar para “pacifistas” ou “conciliadores”, uma vez que tentar esconder ou escamotear o impacto e o objetivo dessa ação é o mesmo que compactuar com ela.
Nós da Oposição Operária, independente de quaisquer que sejam as posições que orientaram a ocupação, queremos manifestar o nosso irrestrito apoio e prestar toda a solidariedade possível aos trabalhadores e trabalhadoras que fizeram da comunidade do Pinheirinho uma referência histórica da luta contra a propriedade e contra a dominação de classe. Somos também parte dessa luta. Estamos juntos!!!
Oposição Operária, 23 de janeiro de 2012."
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E aí, gente, o que acharam? Ah, habilitei para anônimos de novo, então, favor, manter o nível!!